Naldinho Alemão, my President
Reportagem #2, direto da Terra Plana
(FNP — FeiquiNius Press)
Prezados, fui à posse do grande irmão e amigo de sempre Donald Trump.
Infiltrei-me na comitiva dos 21 parlamentares brasileiros que, em viagem oficial custeada por nós mesmos (nós mesmos, no caso, eu e todos vós), não chegaram ao Capitólio. Para lá foram para assistir ao histórico evento e tiveram o privilégio de ver pela TV, como vós, só que bem de pertinho, num telão de um hotel a pouquíssimos quilômetros do local.
O moleque federal era o mais entusiasmado da turma, metido em seu patriótico bonezinho com a inscrição Make America Great Again.
Os honrados deputados e senadores que me perdoem a proeza, mas eu não poderia deixar de ir. Afinal, eu e Ismênia somos amigos de longa data de Donald, o Naldinho Alemão, como o chamamos na intimidade.
Ismênia, para quem não está ligando o nome ao autidor (do inglês outdoor, ele mesmo), é aquela vereadora de Goiânia que espalhou mais do que justificados cartazes pela capital de Goiás parabenizando Naldinho Alemão.
Duvido que ela goze da mesma intimidade que eu por parte do homem mais poderoso de Queens, Nova Iorque, já que sequer a vi por lá.
Estudamos juntos, eu mais Naldinho, na Wharton School of Finances da Universidade da Pensilvânia, turma de 68. Eu tinha apenas cinco anos de idade, mas me lembro muito bem daquele menino meio burrinho, um tanto birrento, que vivia colando de mim nas provas, como, por sinal, fazia Fernando Haddad nas de Economia da USP. Se o ministro brasileiro pode, por que não o todo-poderoso the president of America?
Conversamos por uns cinco minutos antes de ele adentrar o Capitólio e ele, claro, me perguntou pelo Micto, onde estava Mr. President of Brazil, cadê sua encantadora primeira-dama? Tive de explicar que nosso Messias havia, de fato, recebido o amável convite, pelo qual agradeci, mas não pôde atender.
Naldinho fez aquela cara de limão galego azedo de sempre e quis saber o motivo. Acabei tendo de entregar Xandão, o ministro da Secreta Corte of Brazil, e ele prometeu — aqui, o meu furo de reportagem, pois nem os amigos da Rede Globo Trash tiveram notícia disso — que vai fazer todos os esforços para destituir o carequinha ditador de toga e, ao mesmo tempo, para derrubar o usurpador Nine of Brazil, nem que para isso seja necessário anexar a Groenlândia, o Canadá, o canal do Panamá, a Gisele Bundchen, o golfo do México e o próprio México ao território estadunidense — palavras dele! Só não incluiu o Brasil nessa lista, não sei por quê.
Confesso que essa parte não entendi, pois o presidente do Brasil, bem sabeis vós, continua sendo Jair, o Messias, nosso querido Micto, imbrochável, inelegível e inviajável. “Vamos botar os pingos nesses três is”, disse-me com firmeza Naldinho em seu inglês com o sotaque scotch da família.
Disse ao velho amigo que Michele, a primeira-dama, estava à procura dele — eu havia acabado de cruzar com ela, congelando abraçadinha ao maquiador, comendo pizza numa calçada de Ochitondici —, mas ele me disse que nem pintada de ouro queria ver a esposa de Barak Obama.
Esclareci a situação. Ele demorou quase todos os cinco minutos que estivemos juntos para entender, mas acabou, enfim, compreendendo de quem eu falava (ele achou que a primeira-dama fosse uma tal de Djandja, juro! Eita sujeito distraído!) e me pediu para dizer a ela que havia, sim, um lugar reservado. Um só, pois no governo dele, como bem me explicou, não há lugar para maquiadores, nem mesmo para um macho enrustido como o dela. Disse para eu dizer que ela poderia entrar e ficar em pé, no fundo dos fundos, encostada à janela, junto com Meloni e Milei.

Eu estranhei, perguntei se ao invés de Meloni e Milei não seria “Melania, mileide”, ele disse que não, que era mesmo a primeira-ministra da Itália e um presidente desses lá do quintal da White House, um latino de nome Javier que perambula pela capital gringa e vive de alimentar os cães de Naldinho.
Sempre brincalhão, mesmo quando fala sério, Naldinho achou que o S de BRICS fosse de Span e que Milei fosse o nome do papa argentino que governa os espanhóis. Eu ri da brincadeira, mas ele se manteve sisudo, como se não me compreendesse.
Foi nessa hora que chamei o amigo Pablo Marçal para tirar uma foto com ele, mas quando virei as costas, Naldinho já havia sumido, levado por Elon Musk e Mark Zuckerberg, que o abraçaram um de cada lado, Musk à direita e Zuck também. Foi logo depois que Musk havia chegado junto de nós dizendo que o Alemão estava muito bem trajado e que para completar o figurino só lhe faltava mesmo um bigodinho sobre aqueles lábios chupados. Deve ter sido a inspiração para seu gesto, logo em seguida, em que Musk pôs a mão direita no coração e a lançou, esticando o braço em riste para a plateia, como se a abençoasse, demonstração inequívoca de que só quer mesmo é espalhar amor pelo seu X-Twitter.
Deu tempo também de pelo menos arranjar uma foto com Michele na frente da Casa Branca no dia seguinte. Por sorte, nesse dia fazia um calor intenso, depois dos dez graus abaixo de zero da véspera, em Ochitondici, o que justifica o sol inclemente que aparece na montagem feita por inteligência artificial.

Bom, o que importa é que, de toda a comitiva brasileira, só eu consegui entrar no Capitólio. E, por falar em primeira-dama, fiquei boquiaberto com o visual olhos fechados da elegantérrima Melania Trump, com a cabeça toda enterrada no chapéu preto e num terninho com luvas da mesma ausência de cor, como uma viúva no féretro do próprio marido. Um luxo!
As más línguas andam dizendo que era mesmo estilo velório, para combinar com a cara de defunto do Alemão, ou para significar que ela celebrava a morte da civilização, ou ao menos dos Estados Unidos, mas a verdade é que roupas pretas importam, sim, e não entendo essa demonstração de preconceito, coisa de latino mal resolvido e invejoso.
Eu estava também na missa, ou culto, sei lá, no dia seguinte, daquela tal bispa, ou episcopisa, como prefere dizer o neopetralha Reinaldo Azevedo, e testemunhei, com estes olhos que a terra um dia haverá de cegar, o constrangimento que aquela senhora impôs ao Micto ianque. Que absurdo! Um abuso, puro suco de discurso de ódio. Bullying religioso é o ó do forrobodó.
Isso tudo porque Naldinho só quer deportar estrangeiros e mandá-los de volta ao seio das respectivas famílias em seus países de origem. Ao mesmo tempo, quer acabar com essa onda de afeminação dos homens brancos e, assim, dar um fim ao fenômeno esquerdista que tem dividido as famílias brancas. Foi em nome de Deus, da família e da pátria brasileira que ele determinou que os 88 brasileiros deportados chegassem ao Brasil algemados e acorrentados, um gesto de nobreza que contou com justo aplauso de BolsoNero e seus seguidores.
Para facilitar a vida do meu amigo do Norte, preciso apresentar a Naldinho nossa estimada Deise dos Anjos, a angelical gaúcha de Torres, RS, patriota e cristã como toda boa bolsoNerista que se preze, também leal ao lema Deus, pátria e família. Ela tem uma receita de bolo fantástica, ideal para servir a quem nos atravanca o caminho, feito com uma substância química cujo princípio ativo é uma tal strikenina. De fato, faz um strike!
That’s all, falks!
Até o próximo relato, direto da Terra Plana.
(Luis Antônio “Paralelo” Albiero, de Paralelópolis, Brazil, correspondente da agência internacional FNP — FeiquiNius Press)
Rasgando a fantasia
Voltando a mim mesmo, ufa!, me perguntaram se eu aceitaria um convite para tomar café na casa de Michele.
“No humilde tugúrio em que ela vive? Talvez... Até levaria um pãozinho quente, um bolo de fubá com sementinhas de erva doce. Só não estou certo se levaria meus pensamentos inconfessáveis ou se os manteria bem guardados nos recônditos da minha alma onde se esconde uma certa lascívia.”
Zebra no céu
Foi-se Léo Batista, que eu estava crente que fosse de Piracicaba, mas era de Cordeirópolis, uma e outra nas cercanias de Capivari, e que doravante vai ficar divulgando os resultados da loteria da vida, avisando Deus sobre quem chega no céu e quem vai pra outro lugar.
Espero que, na minha vez, ele anuncie: ih, deu zeeebra!
Minhas condolências a familiares e amigos. Que sua alma descanse em paz.
Oscar 2025
Agora a extrema-direita pira!!!
Ainda Estou Aqui foi indicado para três categorias:
Melhor Atriz (Fernanda Torres)
Melhor filme estrangeiro
MELHOR FILME (prêmio principal)
As Diferenças
Enquanto os brasileiros de verdade comemoram as vitórias até aqui já conquistadas pela atriz Fernanda Torres e por toda a equipe do filme Ainda Estou Aqui, os autoproclamados patriotas gritam make America great again (MAGA).
Grata surpresa
Depois de ter dormido pouco mais de três horas de domingo para segunda-feira passada, de 19 para 20 de janeiro, saí logo pela manhãzinha da amada Capivari, onde resido com gosto e ânimo definitivo, para uma viagem de duas horas e quarenta minutos de volta a Jacareí, onde moro por razões profissionais.
Foram 230km de estrada e muita sonolência, tanto que, vindo pela Dom Pedro, errei a entrada para a Dutra, conversão à qual estou acostumado já faz quase sete anos, senão semana a semana, ao menos a cada quinzena.
Chegando no condomínio, busquei na portaria duas encomendas que lá esperavam por minha retirada.
A da foto continha o livro do amigo e conterrâneo de Capivari José Roberto Guedes de Oliveira, que tem a felicidade de residir em Indaiatuba, também nas cercanias de nossa terrinha natal.
Costumo dizer que a verdadeira RMC não é a propalada região metropolitana de Campinas, mas a Região Megalopolitana de Capivari, cujo raio alcança Piracicaba, Santa Bárbara d’Oeste, Americana, Campinas, Indaiatuba, para citar algumas das cidades satélites da megalópole. Estou pensando em propor alargar o círculo, para nele incluir também Jacareí e São José dos Campos, onde trabalho.
Astrojildo Pereira in Memoriam é o título da obra, um bem cuidado repositório de textos do famoso intelectual brasileiro, crítico literário especialista em Machado de Assis. Astrojildo fundou o Partido Comunista em terras tupiniquins.
Dou uma folheada e vejo depoimentos de Alfredo Bosi, Roberto Romano, Benvindo Sequeira, dentre outros, elogiando o trabalho de Guedes e dando seu depoimento sobre Astrojildo.
A maior e grata surpresa foi descobrir o interesse pela Política do amigo conterrâneo. Nada sei sobre Astrojildo, a quem só conhecia de nome. Vou mergulhar na primorosa obra, pela qual, em agradecimento, enviei a seguinte mensagem ao autor:
Seu gesto sela nossa amizade, se de mais ainda precisasse, e revela seu apreço não só pela literatura, já de minha sabença e reconhecimento, mas também a este humilde escrevedor da terriola de Amadeu Amaral, Tarsila do Amaral, Cesário Motta Júnior, Joaquim de Toledo Pisa e Almeida e tantos outros, com honra, glória e justiça, dentre os quais conquistou seu lugar o escritor J.R. Guedes de Oliveira, a quem tenho o orgulho e o privilégio de chamar de amigo.
Um forte e afetuoso abraço, amigo!
Outro presente…
…recebi do amigo Aprígio de Almeida Júnior, também conterrâneo e conhecido desde minha infância. Ele me enviou seu valioso trabalho de 1997, em meio virtual, de curso que fez na mesma Universidade Metodista de Piracicaba em que me formei em Direito dez anos antes. Com o título 1936 — A Comunidade Italiana de Capivari entre o Fascio e o Sigma, Aprígio relata a movimentação dos integralistas da terrinha e suas relações com o fascismo de Mussolini.
Pretendo me valer de suas informações para desenvolver um romance de ficção histórica ambientado no final do século XIX, marco da chegada dos primeiros imigrantes italianos à amada cidade natal. É certo que por essa época na Itália ainda não havia desabrochado o fascismo, nem Mussolini, nascido em 1883, tampouco o integralismo no Brasil, embora já demarcasse as polêmicas discussões internas da Igreja Católica, especialmente na França. É evidente que tais fenômenos sócio-políticos não brotaram de uma hora para outra e, sim, foram consequência do desenvolvimento de ódios latentes na sociedade desde sempre.
Reitero os agradecimentos!
Até!
Até a próxima niusléter, pessoal.